Soulstorm - Patrice
(Uma questão de confiança)
Lembro-me quando era criança e ia visitar os meus tios a Cascais. Perto da casa deles havia campo e apanhávamos amoras e caracois. Adorava isto. Eu, o meu pai e os meus primos a comer amoras no campo.
Tenho flashes desses tempos e sorrio sempre... bons velhos tempos, quando não temos a consciência do fim das coisas. :)
Agora perto da minha casa, também há amoras e ás vezes quando chego ao fim do dia a minha mãe tem uma tacinha cheia á minha espera... e sabem-me bem por tantos motivos, meu Deus... cada amora uma lembrança, cada amora um sorriso.
As coisas que me lembro, umas mais difusas e outras clarinhas como água. É bom.
Também é bom quando chego a casa e a minha cadela a abanar a cauda de contente por eu chegar e ás vezes venho tão exausta, tão consumida... mas lá vou até ao campo com ela.
Nada que faça por ela, alguma vez compensará o amor tão verdadeiro que me dedica.
Uma questão de confiança, nada mais.
No meio de um desgosto, isolei-me ás escuras no meu quarto por vários dias, e ela, proibida de lá entrar... nem o tenta... nessas alturas vinha muito devagarinho, com o rabo cabisbaixo, deitar-se no tapete ao lado da minha cama...
Isto também não esqueço...
Há humanos que não são sequer capazes de nada semelhante pelo próximo... Pois...
E eu a comer as amoras que o meu pai apanhava para mim, quando eu ainda pensava que ele era eterno...
Quando tudo me parecia eterno... bela ingenuidade da infância...
Paula AbrEu
27/72011 Partilhar
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