terça-feira, 3 de julho de 2012

Gorillaz - Clint Eastwood (Ao vivo) (holograma)

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Ás Voltas

Lembro-me bem quando a avistei ao longe. Era loira, morena e ruiva. E também era bonita mas feia. Horrível.
Na verdade quanto mais penso nisso mais me apercebo como a sua imagem se transforma em fumo e desvanece. Mas do que me lembro mesmo bem foi quando ela passou por mim e até parou a olhar-me com desdém e um sorriso trocista. A medir-me.
Era a Maldade, e os seus olhos azuis esverdeados, castanhos e pretos - sinceramente não me lembro já nada da cor que tinham - mas lembro-me que faiscavam, feios.
Eu até pensava que não tinha reparado em mim, sou pequena e discreta. Consigo passar despercebida quando quero. Mas não. Mediu-me e tornou a medir-me, ponderou no que fazer comigo, que eu percebi muito bem no seu olhar cruel que gelava quem fitasse. Um olhar frio como o gelo mas quente de intenções. Más.
E eu?
O pior é que eu parei e deixei-me ficar ali a suportar aquilo tudo. A sentir aqueles olhos como mãos geladas que me agarravam com força e magoavam até quase me fazer chorar. Era isso que me apetecia, chorar. Mas não saiam, as lágrimas. Só aquele desconforto na alma é que saia.
Também me apetecia fugir dali para fora e deixar de sentir aquele medo, aquela angustia sufocante e aflitiva. E dava constantemente ordens aos meus pés:

- Corram!!! Vá corram!!!!

E também lhes supliquei:

- Por favor… CORRAM!!!! Saiam daqui!!! Tirem-me daqui!!!!

Mas nada.
E ela com aquele sorriso maléfico e tão trocista - divertido até - por ser a vencedora e eu a vencida, ponderava no que fazer com tão vulnerável Ser, sentindo um prazer inevitável no que iria utilizar para me punir com os seus sábios requintes de malvadez.
Fechei os olhos e abri a boca para gritar a plenos pulmões mas não me surpreendi assim muito por não ouvir um único som.
Não me surpreendi mas também não desisti e continuei a tentar fugir, gritar… e gritar e fugir ao mesmo tempo, enquanto os meus olhos procuravam alguém desesperadamente.
Procuravam ajuda. Mas só eu lá estava á espera da vontade dela, mais ninguém.
Depois, não me lembro muito bem se foi sorte que tive. Não me lembro bem se foi azar. Porque me faltava o ar e pensei que era o fim. Faltava-me desesperadamente a capacidade vital de inspirar e deixar de sentir aquela secura toda a invadir-me. Aquele terror.
Consegui então abrir os olhos – estava escuro - e depois de passar o susto, ri sozinha e aliviada.
A Maldade tinha partido sem me punir, afastando-se suavemente aos tropeções, sem qualquer barulho mas intensa e ruidosa. Como disse antes, já não recordo com clareza e tudo se esfuma. Ainda bem.
Talvez porque nada nem ninguém é suficientemente Bom… mas também não é totalmente Mau.
Ou talvez porque finalmente acordava do maldito pesadelo.
Sei lá.

Paula AbrEu
3/7/2012
(GORILLAZ porque sou fã e porque "I ain't happy. I'm feeling glad. I got sunshine. In a bag" como a letra de "Clint Eastwood" diz :) Partilhar

2 comentários: